quinta-feira, 18 de novembro de 2010



Mombojó, Amigo do Tempo. (2010)



De fato, 2010 tem sido um ano de bons lançamentos, poucos, mas bons. Mombojó se enquadra em um deles. A banda recifense que já conta com dois álbuns de estúdio, lançou seu terceiro trabalho recentemente e totalmente grátis pelo seu site. Amigo do Tempo é o título do novo álbum, que sinua deliciosamente de maneira despretensiosa entre as melodias das guitarras e os experimentalismos tropicanos do grupo, ou, como diz a faixa de abertura "...sempre a estimular o alcance por novas sensações".

Para não cair no clichê: não é o melhor álbum só por ser o mais recente, mas também não é o pior, e não se trata de um rótulo de um produto. Se trata de um grupo resgatando suas influências e experimentando suas qualidades como músicos de uma maneira totalmente despretensiosa.



• Faixas:
 
A levada melódica de Entre a União e a Saudade é um bom interlúdio da experimentalidade que o álbum propôe. O vocal rebuscado no regionalismo dá um toque especial ao que nos remete muitas vezes à algo bem similar a um Los Hermanos na fase Ventura, mas sem querer exagerar nas comparações e menosprezando o trabalho da banda, Mombojó ressalta as suas melodias com muito mais vigor. Os teclados deslizam pretensiosos em guitarras afundadas em efeitos profundos, a bateria salta as vezes, mas não é o condutor-chefe, o trabalho de condução fica nas cordas vocais, que representa bem seu papel.

Mombojó - Entre a União e a Saudade by k7fm

A segunda, Antimonotonia, segue com uma introdução que conduz instrumentos de sopro, guitarras cinquentistas e uma linha de bateria bem chegado à uma balada praiana. A música tem identidade única, mas talvez soe incompreendida para quem a ouve assim pelas primeiras vezes. Começa com um ritmo saxofônico que vai se desfazendo pelos 3, 4 minutos acaba virando uma coisa totalmente diferente do seu início. Experimentalismo que talvez não soube ser traduzido, ou que talvez tenha uma linguagem de "difícil" acesso.


Passarinho Colorido reconduz o estilo, a estética e a sonoridade. Um passeio por várias veredas, a música começa com a "geometria inflexível" que determina o espaço, as guitarras leves deslizam entre um blues desinteressado na magia de ser comum. Surge na atmosfera um sintetizador que redesenha as melodias e refaz o ritmo lá pelos 1.40 minutos. O teclado que divide a música em duas. Eu tô num processo que precede a vida.


Justamente é o cruzamento mais delicioso que tenho ouvido nos últimos tempos de sintetizadores com cordas. Amadurecimento que possibilitou a andada do grupo por essas veredas. E o melhor: faz isso tudo soar tão normal. Um minuto a mais, agora tanto faz. A melodia caminha, a bateria acompanha e o resultado disso é que a quarta faixa gruda fácil fácil. Um dos pontos altos, mais, um dos picos.


Qualquer Conclusão é a continuação da atmosfera que a quarta faixa propoê. Uma viagem musical entre o doce vocal do Felipe S, a guitarra cheia de casas altas e melódicas, e uma linha de baixo extremamente viril que caminha e se encaixa entre as lacunas deixando-nos simplesmente admirados pelo tom senil da música, mas enfim, não se deixe levar pela crítica, e Tire qualquer conclusão sobre o que quiser de mim.


Praia da Solidão toca o álbum a frente com um baixo interessante, uma bateria que guia os compassos, o teclado que desafina e desatina e a guitarra que dá uma melodia e ar bucólico ao contexto que se insere os vocais: Fui procurar...Um lugar...Pra ficar só...Em mim...Só pra mim...Um tom lo-fi que aguça as sensações e desafia os menos complexos. Balada romântica, descompromissada. É assim que se sobressai sobre os muitos adjetivos que poderíamos dar.


Casa Caiada tem vocoder nos vocais, baixo destacado e vendo a vida passar a guitarra serve de ambiência e de ritmos quaternários que vão se sobrepondo e se construindo por camadas. Quanto a nostalgia vem a mente, eu volto da cidade vendo a lua me assistir.

Casa Caiada - Mombojó by outrocarlosgomes


Aumenta o Volume é recheada de reverberação, sintetizadores que gotejam aos poucos, bateria marcada pelos vocais, baixo que caminha deliciosamente em todos os momentos, e as guitarras, que soam acústicas quando necessário, e agressivas quando precisam se mostrar atuantes. Mombojó esbanja da sua música cosmopolita, e viaja por tons regionais, blues viajados, post-rock e californianos em teclados e em sonoridades que voam e aterrissam por ali e por aculá, fazendo tudo soar como uma orquestra bem calculada de entrada e saída de sons e sobreposições.

Triste Demais é outra balada desinteressada no mundo. Soa como uma auto-reflexão guiada com uma sutileza e suavidade. Traços do álbum por completo, que soa bem instrospectivo com pitadas de pop não tão fácil, mas sutil. E é a sutileza que faz com que as guitarras e o baixo andem tom sobre tom, dedilhados, em powerchord, por aqui e por ali. E quando tudo parece bom, ainda se ouve um teclado sinuoso vindo e indo pelos canais esquerdo e direito. Me resumo a sentir a vida (aaah-ah!)/Triste demais pra televisão.

Amigo do Tempo que dá nome ao disco, é a faixa mais comum depois se ouvir 9 faixas caminhando como capítulos sobre capítulos. É a finalização da obra, fazendo "misturas agridoces" para se eternizar e "ter o espírito do tempo".

Papapa soa mais como um "extra" do que qualquer outra coisa. Talvez por isso foi jogada para o final. É feliz, largada, sem medo de fazer pop. É o raiar do sol de um Mombojó amadurecido. É o fim épico. É sonhar em dormir na geladeira.

► Fonte: http://www.eltoron.com/2010-amigo-do-tempo-mombojo/

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