quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Opinião

Uma saideira e um guaraná.

Felipe S, vocalista, conta um pouco da sua infância e de momentos que tinha com o pai.

"Muita gente me pergunta por que eu nunca gostei de cerveja na vida. E, de uns dias pra cá, me deu vontade de escrever essa história. O pontapé disso tudo começa com meu amado pai e com minha amada e falecida avó materna — que o que tinha de braba, tinha de carinhosa! Meus pais se separaram quando eu tinha cinco anos de idade e, a partir disso, minha avó sempre cobrava muito a presença do meu pai na minha vida.

Todo fim de semana ele me buscava para sairmos juntos, numa relação de muita amizade que temos até hoje. Éramos tão amigos, que ele sempre fazia questão de me levar para um bar e conversar sobre a vida. Lembro, por inúmeras vezes, ele saindo do ateliê Guaianazes — que fica perto do Quatro Cantos de Olinda — indo encontrar amigos ou em um bar que ficava lá perto ou na barbearia de Seu Isná. Foi aí que meu lado chato começou a ser estimulado. Eu nunca gostei de ir em bar para beber. De verdade, até hoje, isso nunca mudou. Eu nasci com 4,8 kg. Um bebê faminto! Eu sempre tive a gula como ponto fraco na minha vida e eu não conseguia entender o quê as pessoas faziam ali, sentadas nas mesas, bebendo e conversando e sem comer nada!

Eu já tinha minha frase pronta quando passavam mais de vinte minutos sentado sem ter nada para comer ou para fazer. Eu já acionava como se fosse a primeira vez que estivesse falando: "Quero ir pra casa!". E, realmente — meu pai pode até discordar — mas eu não lembro de nenhuma vez em que esse meu pedido tenha sido atendido. Mas não falo isso como crítica, mesmo porque isso me ajudou muito a ser uma pessoa "amiga do tempo", hoje em dia. Mas depois de pedir umas tantas vezes, eu começava a apelar: chutava os amigos do meu pai, os mordia, fazia tudo o que era possível fazer ao meu alcance infantil. E, depois que eu conseguia irritar a todos, vinha uma célebre frase: "Uma saideira e um guaraná!"
Olha eu nunca tomei tanto guaraná como nessa época da minha vida! Hoje eu tento tomar um copo de cerveja, mas nunca consigo beber mais do que uns poucos goles e, ainda assim, fazendo muita careta. Passei muito tempo da minha vida assim, que nem beber, eu bebia! Lembro das situações em que eu ouvia repetidamente de pessoas queridas "Beba, aí, por favor, eu nunca te vi bêbado!". Mas isso nunca deu certo. Eu não sou muito bom em dosar as coisas. Acabo sempre passando do limite. E nada como a escrita para exorcizar e, ao mesmo tempo, dar vida ao passado."



Texto extraído do Facebook. Adaptado pelo blog.
Gravuras de João Werner.

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